Com soluções da nstech, Lactalis reduz em 47% os prejuízos por sinistralidade no transporte de laticínios
outubro, 2024 / Por nstech
Muito se fala de gastos logísticos no Brasil, que segundo o Ilos chegam a 12,70% do PIB – muito superiores aos gastos dos Estados Unidos de 7,8% em igual período. Destes, 6,8% estão ligados aos custos com transportes. Quais são as causas principais por trás desta grande ineficiência, que oneram sobremaneira nosso custo Brasil?
Sem dúvida alguma, a infraestrutura e a matriz de transportes têm um peso muito relevante. Nossa matriz predominantemente rodoviária tem um custo por tonelada muito superior ao ferroviário e aquaviário. Apesar da evolução dos investimentos privados em modais mais competitivos, nosso gap exigiria investimentos e tempo que – sabemos – não acontecerão de forma a reduzir esse gap internacional de maneira efetiva, até mesmo porque continuam sendo feitos ainda mais investimentos de forma proporcional nas economias mais maduras do que no Brasil.
O outro lado da moeda tem a ver com a produtividade dos ativos e recursos. Aqui, conseguimos enxergar um cenário mais promissor, com mais potencial para equiparar as economias mais modernas, cenário no qual a tecnologia tem um papel preponderante.
Nesse artigo, vamos falar sobre a evolução tecnológica em geral, e mais especificamente como o que vem acontecendo nos anos mais recentes tem potencial enorme de destravar um valor para a sociedade como um todo – especialmente para embarcadores e prestadores de serviços logísticos que fazem nossa economia girar.
Antes de falar especificamente do setor de transportes, gostaria de resgatar ensinamentos de uma palestra que tive a honra de assistir em Israel, em 2017, numa viagem que fiz organizada pelos meus ex-sócios da Monashees, principal fundo de Venture Capital brasileiro. Nesse dia especial, Shlomo Dovrat, cofundador do Viola Group, um dos expoentes do setor de tecnologia nesse país incrível, dividiu conosco sua história, mas também sua perspectiva sobre as transformações que viu acontecer no mundo da tecnologia.
Segundo sua visão, o mundo da tecnologia teve perto do ano de 2007 uma série de inovações que, somadas, tiveram um poder incrível de transformação da nossa realidade. Foram cinco grandes mudanças que não surgiram nesse período, mas ganharam muita força nesse momento especial do mundo e permitiram o nascimento de muitas empresas quem vem ajudando a revolucionar o mundo desde então. Vamos a elas:
iPhone – a partir do lançamento do produto de maior sucesso e criação de valor que o mundo já viu, nossa vida mudou. O celular, que até então era basicamente um telefone móvel, passou a concentrar grande parte da nossa vida não só social, mas também de trabalho. O Brasil é um dos cinco maiores países do mundo em números de smartphones. Segundo estudo da FGV, o país atualmente possui mais smartphones que habitantes: 242 milhões contra 214 milhões, respectivamente.
Mídias sociais – nesse período surgiu o Facebook, que não foi a primeira, mas popularizou o conceito de redes sociais (não antes do já morto Orkut, que tinha no Brasil seu campeão internacional). Somos o terceiro maior usuário global em mídias sociais em tempo. Estudos mostram que o brasileiro passa a média de 3h43min por dia em redes sociais. Desconfio que esse número atualmente seja maior, sobretudo após novas redes como TikTok que usam o formato de vídeos e a inteligência artificial de maneira muito competente para aumentar ainda mais o engajamento. Quem, assim como eu, já se sentiu totalmente impotente quando há alguns meses o WhatsApp saiu do ar por problemas técnicos?
Cloud – também nesse período surgiu a AWS, empresa da Amazon líder global em tecnologia de armazenamento na nuvem. Hoje, não só guardamos nossas coisas pessoas na nuvem, como cada vez mais as empresas não investem mais em infraestrutura própria – e consegue crescer de maneira rápida e escalonada pagando pelo uso.
Open Source – em 2008 surge o Android, plataforma aberta que permitiu um time to market muito mais rápido a um custo muito menor. Quem diria que esse novo sistema operacional estaria em cerca de 90% dos smarthphones do mundo?
Big Data – infelizmente não me lembro o produto, mas segundo ele, nesse mesmo período, o conceito de big data também passou por um momento de inflexão.
Apesar de muitas dessas tecnologias já estarem por aí há muito mais tempo, foi a partir da criação de novos produtos mais fáceis de usar – com a adoção, velocidade e baixo custo que as empresas e programadores conseguiram desenvolver novas tecnologias e produtos – que foi possível ter o salto exponencial no mundo que vimos nestes últimos 15 anos.
Isso nos remete ao pensamento de que a inovação não é necessariamente inventar algo completamente novo. Na verdade, raramente é. Mas passa por combinar em um novo produto diferentes coisas que já existem – e mais do que isso: facilitar em muito o acesso e a forma de usar para um usuário médio.
Pense na quantidade de empresas/produtos que foram criados nestes últimos 15 anos e que hoje sequer conseguimos imaginar como seria nossa vida. Uber, Netflix, iFood, bancos digitais, Pix, Whatapp, Instagram, apenas pra citar alguns.
Qual a magnitude dos problemas que precisamos resolver no transporte de cargas?
Antes de falarmos das soluções, vamos falar de alguns problemas que temos atualmente no transporte brasileiro.
A produtividade dos nossos recursos é sofrível. Estima-se que, em cerca de 40% do tempo, nossos caminhões estão rodando sem carga, vazios. Seja um caminhão, trem, navio ou avião, para que tenhamos a máxima produtividade, precisamos que eles estejam sempre cheios, em movimento e visíveis, para que se tenha como gerenciar os gargalos. Só para se ter uma ideia do tamanho do problema, baseado em números de 2021, isso significa um desperdício de mais de três vezes nosso orçamento anual do programa Bolsa Família.
O problema da produtividade não é apenas dos ativos físicos, mas também da força de trabalho envolvida no processo de transportes. Isso tem a ver com baixa escolaridade, pouca automação e alta burocracia, entre outros fatores. Falando de burocracia, segundo o próprio Ministério da Infraestrutura ao justificar a criação do DT-e, são exigidos potencialmente mais de 90 documentos para um transporte rodoviário de carga apenas no âmbito das autoridades federais.
Um segundo grande problema tem a ver com a rapidez. Apesar de ter havido um grande avanço nos últimos anos, em especial puxada pelas demandas das empresas que querem reduzir seus estoques e pelos consumidores finais que exigem cada dia uma entrega mais rápida, no Brasil ainda temos prazos de entrega muito dilatados, em via de regra.
Outro grande problema são acidentes e seus reflexos. No modal rodoviário é onde temos mais problemas. Atualmente, mais de 60% dos sinistros das apólices de seguro de carga de transportes no Brasil são referentes a acidentes. Segundo dados da CNT, somente em rodovias federais no ano de 2018 tivemos um total de 69.206 acidentes, envolvendo 53.953 vítimas e 5.269 mortes. Deste total assustador, 12.631 acidentes que tiveram vítimas tinham um caminhão envolvido. Em 2021, diretamente envolvendo caminhões foram 859 mortes nas rodovias federais. É inaceitável como sociedade que convivamos com tal situação.
Outra área que ainda temos um cenário muito ruim é o de roubo de cargas. Os prejuízos anuais são bilionários: em 2021, o valor chegou a R$1,27 bilhão, segundo a NTC&Logística – voltando a crescer após um período de queda. Foram 14.150 ocorrências no período, apenas dos fatos registrados que não são a totalidade das ocorrências.
Com todo o contexto extremamente desafiador descrito anteriormente, a boa notícia é que muito evoluímos no cenário de tecnologia para transportes no Brasil. São milhares de empresas, que muito se beneficiaram das inovações supracitadas. Até eu, que vivi esse mercado intensamente nos últimos 25 anos, me surpreendo com a qualidade e quantidade de empresas que surgiram nesse período, o bom nível dos empreendedores, de seus produtos e o valor que vem entregando aos seus clientes.
Se por um lado temos pouquíssimas empresas internacionais que se aventuraram por aqui, dado nossa complexidade tributária, regulatória e trabalhista sem igual, cada dia surgem novas soluções que muitas vezes resolvem dores específicas – às vezes de uma única persona do ecossistema, seja ela um embarcador, transportador, motorista ou outro player que atua nesse mercado.
Mais do que falar de empresas ou produtos específicos, vou falar de tendências que vejo que estão acontecendo.
Como o nível de complexidade cresceu exponencialmente, muitas vezes as melhores soluções foram desenvolvidas por equipes altamente especializadas, que conhecem muito profundamente aquela dor ou segmento de mercado. Para exemplificar, na AGV Logística, empresa que fundei e liderei por 21 anos até a venda para a Solistica em 2019, apesar de ter uma equipe de mais de 50 pessoas de tecnologia, com TMS e WMS proprietários, para entregar valor adequado aos clientes tínhamos que contratar mais de 10 diferentes provedores de tecnologia, altamente especializados, que ajudavam a resolver atividades como roteirização, background check, monitoramento de risco, monitoramento logístico, gestão EDI/Apis, emissão de CTE, meio de pagamento, emissão de CIOT, gestão de POD, entre outras atividades.
Como consequência dessa realidade cada dia mais complexa, a gestão de inúmeros fornecedores, integração entre sistemas, qualidade da base de dados, redigitação de informações por falta de automação e integrações, nos faziam sofrer bastante no dia a dia, sobretudo quando era necessária uma mudança de fornecedor.
Diante desse cenário – e sabendo que a grande maioria das empresas não tem a menor condição de desenvolver tecnologia dentro de casa, seja por DNA, seja por uma questão de foco no core business –, acredito que um movimento que já começou tende a se intensificar nos próximos anos.
Vamos aos pontos que acredito:
Consolidação nos provedores de tecnologia: haverá uma forte consolidação em algumas plataformas de soluções mais completas que poderão ser contratadas por evento, na nuvem, escaláveis e que já terão integração com outras soluções/empresas previamente feitas. Por meio delas, as empresas conseguirão resolver suas dores lidando com menos fornecedores, mas ao mesmo tempo mantendo a liberdade de escolha de quem executará o serviço final daquele microsserviço.
Novo padrão de integração: emergirão novas formas de promover a integração entre sistemas, com plataformas low code / no code, muito mais intuitivas, que reduzirão o tempo e a complexidade de processos, que atualmente são lentos e caros, e que permitirão que pessoas com menos qualificação técnica possam assumir a atividade de desenvolver essas integrações. O padrão de integração migrará de uma estrutura 1:1 atualmente vigente para um padrão 1:N, o que aumentará o poder de escolha do cliente e simplificará a vida tanto das áreas de tecnologia dos clientes finais, quanto dos provedores de tecnologia.
Líderes de nicho / network effect: dado o aumento exponencial e contínuo da complexidade, as soluções vencedoras serão cada dia mais as especialistas (produto e/ou vertical de indústria). Como essas empresas terão as melhores equipes, que desenvolverão os melhores produtos, conseguirão cada dia mais clientes, criando um network effect que se retroalimentará num fly well contínuo e que levará a situações onde the winner takes it all – ou pelo menos the winner takes most naquela parte do ecossistema especializado.
Dados como vantagem competitiva: com a evolução do big data, do machine learning / inteligência artificial, quem tiver mais dados e capacidade de desenvolver algoritmos para os casos de uso de maior criticidade terá uma vantagem sobre os concorrentes – e essa vantagem só aumentará no tempo.
Por incrível que pareça, apesar de ter iniciado tardiamente sua digitalização na área de transportes, acredito que veremos em breve nossas tecnologias ganharem o mundo, num processo atualmente contraintuitivo.
Como podemos observar, nossa grande oportunidade de fechar o gap de ineficiência não está na infraestrutura física, mas por meio do uso intensivo de tecnologia. Nossos problemas são enormes e históricos, com números alarmantes. Contudo, os avanços tecnológicos que surgiram nos últimos 15 anos estão permitindo um salto de produtividade sem igual, que crescerá nos próximos anos de forma ainda mais exponencial que a complexidade da cadeia logística.
O futuro do transporte de carga está sendo escrito agora por profissionais altamente qualificados vindos de outros mercados que, somados aos que têm profundo conhecimento técnico e muita experiência setorial, ajudarão a inovar e tornar o mundo um local melhor e mais próspero.
Vasco Oliveira: é formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e tem MBA pela Fundação Dom Cabral. Acumula 22 anos de experiência na AGV Logística, empresa que fundou em 1998 e onde exerceu o cargo de CEO e presidente do Conselho de Administração até 2020. Em 2020, juntou-se à Zeca Magalhães, Pedro Faria e Marcelo Lima para fundar a SK Tarpon. No mesmo ano, fundou a Niche Partners, gestora de investimentos focada em líderes de mercado de nicho e, alguns meses depois, criou a nstech, ecossistema conectado de tecnologia para logística e mobilidade. Atualmente, Vasco segue na cia como executive chairman, com olhar para a estratégia do negócio e futuras operações de M&A da holding. Está ainda no Instituto C, uma organização social sem fins lucrativos, como membro do Conselho de Administração desde 2016. Foi também presidente do Conselho da ABOL Brasil (Associação Brasileira de Operadores Logísticos).
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